Seu Antônio sempre foi um dos melhores funcionários da
empresa em que trabalhava. Ele entrou lá quando tinha 15 anos. Seu primeiro
ofício foi de Office boy. Rodeava o centro paulistano pagando e recebendo
contas, andando nos paralelepípedos. Estudava à noite, arduamente. Ao fim do curso
colegial [como chamavam o ensino médio na época], ele decidiu entrar na
faculdade de contabilidade. Foram dois anos de muito e muito estudo para ser
aprovado no vestibular da USP. Após quatro anos, estava formado em contabilidade.
A partir daí, ele nem imagina o que lhe esperava. Dois meses
após diplomado, seu chefe o chamou para um dedo de prosa muito sério. Era uma
das notícias que Antônio mais esperava. Na segunda-feira seguinte, sua nova
sala estava a sua espera, toda arrumada, perfumada e com um belo vaso de margaridas.
Sentia muita alegria. Era estupenda sua felicidade pelo incremento de trabalho
e de salário. Continuou retribuindo com o melhor trabalho prestado à empresa
como chefe de contabilidade.
Foram exatos 25 anos no mesmo cargo. Então, a rua já estava
como um tapete e os carros já possuíam injeção eletrônica. Uma nova sala:
cadeiras mais confortáveis e luxuosas, flores do campo especialmente selecionas
e champagne para a comemoração: agora, fazia parte da diretoria. Era vice-presidente.
Quem diria que aquele garoto pagador de contas chegaria à vice-presidência? Ninguém,
nem eu.
Todavia, ele não era mais o mesmo. Cada vez mais militar. Cada
vez mais austero. Algo amedrontador. As curvas aumentavam em sua face e sua
alma se afastava mais daquele que fora. Sua esposa já estava saturada.
Certo dia, seu Antônio, ao chegar no trabalho se deparou com
uma cena estupenda: no meio do tapete acinzentado, um ramo de uma margarida
crescia. Algo fantástico. Trazia um pouco de felicidade não só a ele, mas ao
local também. Ele parou e ficou admirando. Porém, surpreendentemente um New
Beattle tira as duas vidas presentes naquela situação. Só se vê um cenário de
cravos vermelhos.
Moral da história: vivamos cada dia e saibamos aproveitar cada fase da nossa vida, não se esquecendo que os outros também nos são importantes. Quando você menos espera, tudo se vai.
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