domingo, julho 25, 2010 Comment0 Comments


Penalidade máxima
ARMANDO FREITAS FILHO


Belo, Bruno, bronzeado pela cor e pelo sol ardente
com mais de um metro e noventa e mãos que agarram 
impassível, com o olhar parado das estátuas frígidas 
dos ídolos indolores, encara, sem expressão, o batedor 
o tiro, à queima-roupa, indefensável, que o irá fulminar. 
Em cima da linha fatal, não pisca, não move um músculo 
não sente sequer sua metamorfose, que se não chega à pele 
o desossa por dentro, e depois o esvazia de suas entranhas 
expostas, cruas, para consumo de todos, e o horror fedorento 
das suas carnes, devoradas cruas, sem nenhuma temperança 
ou anestesia. Mas a dor ainda não chegou apesar do crime 
começar a pesar atrás dos olhos, cada vez mais mortiços 
dos ombros caídos desde nascença, mas só agora percebidos. 


Direto no computador para não sujar as mãos, me entrego 
intoxicado pelo mal que a divindade descrita acima exala: 
suor de atleta, mistura de glória e grama, se evapora rápido 
ou desanda no suor cúmplice e acre, sem auréola, dos asseclas 
em sítio de fachada impecável que esconde a casa carcomida 
incompleta, de tijolos aparentes, ilhada por metralhadora e mastins. 
Aqui tudo é de carne apodrecida, de fúria de tiros dia afora ferido 
que demora sobre o cepo sanguíneo, sob o sol estridente disparado 
por facas cegas pela maldade e ferrugem que antes de cortar, mastigam 
para que o sofrimento não se aplaque e permaneça aceso, esportivo 
e um resto de sexo corrompido possa ainda comer, em rodízio, empalar 
o corpo dominado pelo desejo predador que despedaça, e ele corresponde 
preso à sua sina, disjecta membra, até o fim, espasmódica, torcida.


(In: Ilustríssima, Folha de S.Paulo, 25.07.2010)

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