Penalidade máxima
ARMANDO FREITAS FILHO
Belo, Bruno, bronzeado pela cor e pelo sol ardente
com mais de um metro e noventa e mãos que agarram
impassível, com o olhar parado das estátuas frígidas
dos ídolos indolores, encara, sem expressão, o batedor
o tiro, à queima-roupa, indefensável, que o irá fulminar.
Em cima da linha fatal, não pisca, não move um músculo
não sente sequer sua metamorfose, que se não chega à pele
o desossa por dentro, e depois o esvazia de suas entranhas
expostas, cruas, para consumo de todos, e o horror fedorento
das suas carnes, devoradas cruas, sem nenhuma temperança
ou anestesia. Mas a dor ainda não chegou apesar do crime
começar a pesar atrás dos olhos, cada vez mais mortiços
dos ombros caídos desde nascença, mas só agora percebidos.
Direto no computador para não sujar as mãos, me entrego
intoxicado pelo mal que a divindade descrita acima exala:
suor de atleta, mistura de glória e grama, se evapora rápido
ou desanda no suor cúmplice e acre, sem auréola, dos asseclas
em sítio de fachada impecável que esconde a casa carcomida
incompleta, de tijolos aparentes, ilhada por metralhadora e mastins.
Aqui tudo é de carne apodrecida, de fúria de tiros dia afora ferido
que demora sobre o cepo sanguíneo, sob o sol estridente disparado
por facas cegas pela maldade e ferrugem que antes de cortar, mastigam
para que o sofrimento não se aplaque e permaneça aceso, esportivo
e um resto de sexo corrompido possa ainda comer, em rodízio, empalar
o corpo dominado pelo desejo predador que despedaça, e ele corresponde
preso à sua sina, disjecta membra, até o fim, espasmódica, torcida.
Tente beijar mais e tuitar menos
BOB HERBERT
COLUNISTA DO "NEW YORK TIMES"
Eu estava indo de Washington para Nova York quando um carro colou atrás de mim -voando. Eu vi pelo retrovisor que a motorista falava no celular. Dias depois, eu conversava com um cara que costuma ir de Nova York a Nova Jersey. Ele apoia seu laptop na frente do carro para assistir DVDs enquanto dirige. "Eu só faço isso no trânsito. Não tem problema", diz.
Além das questões óbvias de segurança, por que alguém quer ou precisa falar ao telefone ou assistir a filmes enquanto dirige? Odeio soar como se fosse do século passado, mas qual o problema em só ouvir rádio? As maravilhas da tecnologia estão nos engolindo. Não as controlamos; elas nos controlam.
Nós temos celulares, Blackberrys, Kindles e iPads, e estamos mandando e-mails e mensagens de textos, batendo papo e tuitando. Tudo isso é parte do que eu acho ser um dos aspectos mais esquisitos da nossa cultura: o ritmo frenético que exige que façamos, no mínimo, duas ou três coisas a todo momento desde que acordamos. Por que ser multifuncional é considerado um talento?
Poderíamos facilmente achar que isso é uma inabilidade neurótica que nos impede de nos concentrarmos por mais de três segundos. Chega desse comportamento hiperativo, dessa tecnotirania e desse ritmo frenético que não para. Precisamos desacelerar e respirar. Não me oponho aos excepcionais avanços dos últimos anos. Não quero voltar para a máquina de escrever e ao papel carbono. Só acho que deveríamos tratar a tecnologia como qualquer outra ferramenta. Deveríamos controlá-la, moldando-a aos nossos propósitos.
Vamos deixar um pouco de lado nossos gadgets e passar o tempo sendo nós mesmos. Um dos problemas da nossa sociedade é que temos uma tendência, em meio a toda loucura que nos cerca, de perder de vista o que é verdadeiramente humano em nós -aquelas coisas bem especiais, a maior parte não material, que nos preenchem, dão sentido às nossas vidas, nos engrandecem e que nos permitem abraçar mais facilmente aqueles a nossa volta.
Há um personagem em uma peça de August Wilson que diz que todo mundo tem uma canção dentro de si e que você corre risco de perder essa canção. Se você perde o contato e esquece como cantá-la, você está sujeito a ficar frustrado e insatisfeito.
Não acho que ficamos em contato com nossas canções ao tuitar ou digitar mensagens em nossos Blackberrys ou acumular amigos no Facebook. Precisamos reduzir os limites de velocidade de nossas vidas e saborear a viagem. Deixe o celular em casa de vez em quando. Tente beijar mais e tuitar menos. E pare de falar tanto. Ouça.
As outras pessoas também têm o que dizer. Quando elas não dizem, aquele silêncio glorioso dirá mais do que você jamais imaginou. Isso é quando você começará a ouvir a sua canção. Isso é quando os seus melhores pensamentos aparecerão, e você realmente será você.
Tradução de BRUNO ROMANI
Sentimento do mundo
Carlos Drummond de Andrade
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desjeo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desafiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais que a noite.
E aí, galerinha, tudo bem com vocês?
Nossa, faz tempo que eu não escrevo aqui, não é mesmo? Me
desculpem. Final de semestre é sempre uma loucura. Quinhentas provas pra
corrigir, médias pra fechar, planejamento e muito mais. Loucura total não só
para os professores [como eu], mas também aos alunos, que devem estudar para as
provas finais de semestre. Tudo passou.
Bom, agora a gente entra de férias. Moro em uma cidade
pequena. Vejo meus alunos a todo o momento. Pelo menos, não é naquele climão de
sala de aula. É pela rua, no supermercado, no clube, ou então na academia. Menos
tenso, não é mesmo?
Tempo de férias, principalmente de julho, é sempre uma
chatice. A gente nunca descansa direito. Sempre fica alguma pendência, entre
outras atividades. Eu já resolvi o que fazer: encararei melhor minha pós,
estudarei um pouco mais, me dedicarei mais à academia e escreverei mais um
pouco. Também analisarei melhor projetos futuros, pois sem planejamento bem
feito não se vai a lugar algum.
Também quero brincar mais com meus cachorros, passeando
mais com eles. Sei que não tenho o tempo que gostaria para dar mais atenção,
infelizmente. Hora de recuperar o tempo perdido [se é que podemos fazer isso!].
Outra coisa que devo fazer é dedicar mais tempo para minha família. Curti-los
mais, passeando e tal. Família é uma só. Depois que se vão, não há outra no
lugar. E também, eles são o nosso porto seguro, o início de tudo.
Ufa! Acho que não terei tempo nessas férias! Serão tantos
afazeres... Beijos e ótima semana!
DE ONDE VEIO? ||| FÉRIAS
lat. férìa,ae sing. de férìae,árum 'dias de descanso, dias feriados, férias, festa, regozijo público; interrupção, suspensão do trabalho', do lat.arc. fesiae; ver 1feri-
(Dicionário Houaiss)
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